quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vida de Cubo!

A gente não pode andar a pé sem estar coberto pelos mantos e coletes que nos protegem do mundo. Coletes feitos de tijolos revestindo todas as laterais dos lugares em que nos encontramos. Do chão ao teto e de um lado ao outro. Todos precisam estar fechados, como invólucros hermeticamente fechados protegendo contra o ar da periculosidade. Se algum desses lados não estiver fechado, o cuidado deve ser redobrado. Os olhos precisam estar mais abertos, o corpo mais tenso, a caminhada mais rápida, preparado para fugir a qualquer momento de uma situação ameaçadora. Só nos sentimos seguros se estivermos cobertos, envoltos, lacrados por todos os lados, onde não haja brechas para entrada de ar. Vivemos de cubo em cubo, com intervalos muito rápidos entre eles de extrema tensão, cautela e cuidado. Andar sem estar hermeticamente lacrado assemelha-se a uma ameaça de não se sabe quem e nem para o que, mas sente-se ser impossível fazê-lo.
Nesses cubos, o ar não é puro. A quantidade de gás carbônico misturada ao oxigênio quase sufoca, entupindo as veias respiratórias existenciais. A gente só respira a repetição, a mistura, não respira nada autêntico. É um ar meio camuflado, que dá manutenção à sobrevivência, mas que não traz fôlego de vida. A cor da paisagem é monótona, neutra, artificial. Estamos acostumamos a ela, trocamos adornos e cores. Mas eles são todos estáticos, assim como o ar que não circula, levando-nos a um calor imóvel e agoniante. Este calor sufoca, prende nos a suores que não desintoxicam, mas deixa-nos preguentas, incomodadas.
                O ar puro, livre e infinito faz falta, pois é ele quem garante a espontaneidade, as alteridades, as diversidades. A inconstância do seu ritmo, do seu movimento, da sua pureza e da sua intensidade trazem experiências significativas à vida. O frio não é de ar condicionado. O calor não é de sufoco. Essas sensações são fluidas, renováveis, encontram vazão para se expressar. Enrijecem e limpam o corpo e a vida. A mistura dos componentes do ar, do sol, das nuvens, das plantas e dos animais não forma apenas a natureza. Ela confere outra oportunidade de experiência pessoal, com descobertas pessoais.
                Mas tudo isso é cada dia mais raro. A vida artificial tenta imitar a vida natural, mas ela não pode forjar o ritmo e a frequência instáveis dos movimentos autênticos e espontâneos dos seus componentes. A criação da vida de cubo em cubo garante a segurança de vida, mas não a sua qualidade. As experiências significativas nessa vida são de medo, de ameaça, de impotência, de violência, de receio. O movimento que ela apresenta, ritmado e constante, cansa, fatiga. O inesperado é rejeitado, recusado, odiado. Hoje nascemos do invólucro do ventre para os cubos do mundo. Somos privados das experiências no mundo pela segurança da vida, para evitar os riscos de trauma e morte.
                Não percebemos que os cubos são prisões a medida que nos restringem a liberdade. Prisões de paredes coloridas, tijolos enfeitados e vigas importadas. As possibilidades de aprendizagens significativas são forjadas, acentuando a falta de autonomia de vida. E quem disse que viver dessa forma não é um trauma? Restringindo as possibilidades, a realidade, a autenticidade, a espontaneidade!
                Enganamo-nos achando que esta vida é bonita, quando na verdade ela é apenas colorida. São nossos olhos que nunca viram as cores do Pantone ao vivo e se admiram com qualquer novidade. Limitamo-nos ao acessível e seguro, vendo o possível por trás de uma janela. Achamos que é suficiente, mas o vidro deforma, limita, resguarda, distancia. Vemos mas não entramos em contato. Inspiramos mas não sentimos o cheiro. Comemos mas não sentimos o gosto. Respiramos mas não inspiramos profundamente. Expiramos mas não colocamos verdadeiramente nada para fora. Somos seres muito existentes e pouco viventes, quase como um pedaço de carne hermeticamente fechado. Nossa capacidade de ser permeável com o mundo está cada vez mais restrita.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Acreditar?


É possível que ao ler o tópico deste post você tenha sido automaticamente levado a pensar que o papo hoje era sobre religião, Deus, ou coisas relacionadas. Mas não se trata disso. Na verdade eu gostaria mesmo era de distrinchar um pouco do que se trata essa história de acreditar.
Acreditar é a capacidade de olhar para algo com afeição e achar que aquilo é certo e adequado. É quando você acha que aquilo pode ser bom, viável, correto. Há uma certa inclinação positiva subjetiva em que você tem uma inferência de certeza sobre algo. E nenhum de nós escapa da capacidade de acreditar em alguma coisa. A gente acredita que um determinado trabalho vai ser muito bom, ou não. A gente acha que seria um bom profissional numa área. Ou que seria feliz se morasse em um determinado local. Quando a gente acredita em algo, deposita uma boa expectativa naquilo. Uma coisa é certa: não tem como não acreditar. Mesmo que voce seja ateu, você tambem acredita. Voce acredita que Deus não existe, e assim sendo, irá colocar seus esforços em si, no acaso, na biologia, ou em qualquer outra instância.
Todo mundo conhece alguém que diz que acredita em uma coisa, mas nitidamente realizam outras, e a gente fica tentando entender em que ela realmente acredita a partir das suas ações. É frequente confundir que acreditar em algo é fazê-lo, realizá-lo. E que se algo não foi atingido é porque não acreditávamos suficientemente. Acho perigoso demais criar relações de causa e efeito para variáveis que não estão diretamente ligadas, e muito menos mensurá-las e intensificá-las. Pensar que acreditar em algo é realizá-lo é fruto do pensamento positivista, e é bom distinguir que acreditar é muito diferente de fazer. O primeiro está situado na instância do pensar, elaborar, avaliar, fantasiar, enfim, todos concentradas numa atividade que pode requerer apenas intenção. Fazer é passar para o plano da ação, que requer outras capacidades muito distintas do acreditar. Fazer requer pensar estrategicamente, manejo para lidar na prática, conviver com o imprevisível, e ainda as instâncias da determinação, perseverança, e tantas outras coisas. Então não necessariamente a gente realiza o que acredita, e nem acredita no que realiza, pois também fazemos muitas coisas num modo meio automático. As ações podem ser muito diferente das intenções e do que as pessoas acreditam, e ao invés de dizermos que a pessoa fala uma coisa e faz outra, podemos simplesmente dizer que a pessoa tem sérias dificuldades ou de fazer o que acredita ou de acreditar no que faz. Eu penso que acreditar é uma escolha de investimento de si em algo, o que deveria implicar em exclusividade e em conformidade com outras questões em que você acredita. Quando a gente acredita em algo, criamos a nossa percepção investida em algo, elaborando uma realidade interior, o que deveria limitá-la.
Outra coisa que seria interessante dismistificar é que acreditar não significa comprovar. Você pode até justificar que acredita que o homem veio do macaco em virtude das comprovações científicas, mas, a não ser que tenha sido você o pesquisador que descobriu isso, sinto informar-lhe que os estudos além de serem inúmeros e você provavelmente não ter investigado todos, vale lembrar do mais importante: você não foi o autor da pesquisa, ou seja, você ainda continua na instância de acreditar na comprovação científica de um outro alguém.
O fato é que a gente acredita sempre em alguma coisa, em alguma instância, que vai se infiltrando em tudo na nossa vida: trabalho, amigos, família, relacionamentos. Toda crença tem o seu caráter individual, mas também tem uma influência do social ao mesmo tempo que o retroalimenta, o que quer dizer que a gente não acredita em algo por acaso.
O mundo de hoje vive uma pluralidade das possibilidades do acreditar! Tudo é possível e deve ser respeitado sob a pena de ser processado! Os princípios da sociedade mudam, a lei aprovada ontem pode já ter sido revogada hoje, as avenidas mudam de sentido da noite pro dia. O mundo de hoje é um mundo onde tudo depende do seu ponto de vista, não havendo apenas dois lados da moeda, mas multifacetas mutáveis da opinião. Isso acaba com a idéia de parâmetros, valores, princípios, suportes, ou todo tipo de conceito que tente perdurar. Criamos paradoxos pras nossas vidas em virtude de tantas possibilidades do acreditar. Tem horas que nos perguntamos se estamos mesmo fazendo a coisa do jeito que acreditamos, se era assim mesmo, ficamos nos sentindo um pouco inseguros, indecisos, ou até boiando.
Nessas horas, é bom investigar em que estamos acreditando, em que estamos depositando expectativas, e no que isso tem repercutido nas nossas vidas.
Por fim, acho que devemos tomar cuidado para que essa instancia do que acreditamos possa dar conta de tudo, pois o que não dá conta de tudo promove incoerências e paradoxos, uma verdadeira salada mista pessoal!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Estátua? Eu?

Quando eu era criança adorava brincar de estátua! Lembram dessa brincadeira? A gente coloca uma música, dança, fica de olho no encarregado do som para saber quando ele vai parar a música para que a gente possa fazer uma pose confortável para ficar paradinha, o mais ESTÁTUA possível! Só que o Dj pega a gente de surpresa e a gente fica naquelas posições desconfortáveis e acaba se mexendo sem querer, para tentar se acomodar! Não sei vocês, mas quando eu me pegava parada numa pôse desconfortável, eu tentava me mexer devagarzinho sem que ninguém visse para me acomodar! Mas eu sempre era pega! Ahahaha, e quem não era? Nesse jogo vencia quem ficasse parada por mais tempo!
Bom, o assunto aqui do post de hoje é bem parecido mas só que neste caso, quem ficar “Estátua” por mais tempo, perde o jogo. E o jogo, não é de brincadeira, embora muitos pareçam estar encarando assim.
Quero me referir aqui ao jogo de Estátua da vida. Quantos de nós não já escutamos amigos, colegas, familiares, professores, sem falar nos namorados e namoradas. Todos dizendo em coro: “Eu sou assim! Se quiser que me aguente!” É uma fala simples, corriqueira e que muita gente se aproveita dela para encerrar uma discussão, ou colocar uma pessoa numa saia justa. Proponho pensar aqui sobre esta frase e nas implicações dela.
Primeiro de tudo, a pessoa que diz isso frequentemente está dizendo que é assim, sempre foi e que não mudará. É tipicamente a pessoa que não quer olhar para um incômodo que está sendo causado numa relação e sai com uma frase dessas tentando justificar aquilo que não precisa de justificativas, mas sim de atitudes. O que essa pessoa realmente quer dizer com esta frase é que ela é assim e que ela não quer mudar, isso sim! Ela até pode reconhecer o incômodo que está sendo causado, mas ela está dizendo claramente que não quer fazer nada a respeito dele.
Sabe por quê eu me admiro muito com as pessoas que dizem isso? Porque nós somos criadores de um mundo onde os produtos se renovam com o cair da noite, e quem não acompanha vai à falência! Não dá pra imaginar uma empresa ter parado na era do celular tijolão querendo que o consumidor aceite e se agrade de um produto que foi ultrapassado à anos luz. Como será que a gente tem tamanha capacidade para criar e inovar em produtos enquanto que a gente resiste em mumificar a nossa personalidade, o nosso comportamento, os nossos princípios?
Então, se você é assim, sugiro que você vá viver num museu e deixe de martirizar os outros com seus tantos paradoxos. É melhor assumir que tem dificuldades para mudar e procurar ajuda. É mais íntegro pedir ajuda ao colega, ao cônjuge dizendo que você não é perfeito e que não sabe o que fazer. Se você não fizer isso, o encarregado da música da vida irá dar um jeito de fazer você se mexer por ter ficado numa posição estática incômoda, desconfortável, inadaptada e talvez até patológica.
E no jogo da vida, vence quem consegue se adaptar às situações diversas, às pessoas múltiplas, às dificuldades extremas e às exigências inesperadas. A gente precisa se mexer e se adaptar conforme a música continua a tocar!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Perdida?

Amigos, essa pequena experiência foi escrita cerca de 4 anos atrás quando eu passei uma temporada em Paris. Espero que gostem!

            Mudar-se para uma nova cidade é um grande desafio. Principalmente quando não se fala a língua do país e nem se conhece bem o local.
            No meu caso, morar em Paris foi uma descoberta a cada dia. Ver anúncios no começo da semana e não conseguir entendê-los, mas no fim da semana eles ganham total sentido graças às aulas de francês.
            Os lugares que conheci, praças, jardins, museus, passaram a ganhar vida e importância a partir do momento em que os visitava. É certamente uma cidade que sangra cultura por todos os poros.
            Mapas, mapas e mais mapas. Para achar todos esses lugares os mapas são indispensáveis, mapas do metrô, das linhas de ônibus, de ruas, e lá estava o tal monumento. Opa! Mais um mapa: o mapa do local, de como ele está dividido. Eles prometem nos ajudar a se situar, mas até mesmo o melhor dos mapas não consegue ser fiel na representação daquilo a que se propõe. A cidade, as avenidas e as ruas mudam com uma rapidez maior do que a sua representação consegue exibir. E com tantos lugares desconhecidos e mapas a decifrar, o mais provável de acontecer é a gente se perder. Foi aí que começou a minha jornada.
            Sai de casa 15 minutos antes de a aula iniciar, como de costume, direcionei-me para a parada do ônibus. Lá, o visor (painel eletrônico) indicava que havia uma manifestação (Paris e suas manifestações de ônibus!) e que a linha 91 não funcionava normalmente. Verifiquei o visor (painel) da outra parada, que seguiria no sentido oposto, mas que faria o mesmo percurso. Lá, indicava-se que o ônibus estava sendo conduzido normalmente.             Resolvi, então, pegar essa linha, que embora demorasse um pouco mais para chegar ao meu destino, levar-me-ia mais rápido do que se eu pegasse o metrô.
            O tempo de atraso imaginado se transformou em 50 minutos de passeio de ônibus pela cidade de Paris. Isso mesmo! O ônibus começou a rodar pela cidade e a parar em diversos locais que não eram os indicados na rota. Os avisos auditivos e visuais do ônibus estavam desligados e a parada seguinte era sempre uma surpresa.
            Depois de entrar em pânico e pensar que estava perdida, cheguei à conclusão de que eu deveria simplesmente olhar a cidade e não mais me importar com o destino. Afinal de contas, eu estava ali, segura, passeando dentro de um ônibus quentinho e aconchegante e poderia descer a qualquer minuto e pegar um táxi. Você, como eu, deve estar pensando nesse exato momento o porquê de eu não ter feito exatamente isso logo no começo do tal “passeio”.  Mas lá estava eu. Rodando a cidade. Passando por pontes sobre o rio Sena e contornando diversas praças. Reconhecendo monumentos que eu já havia visitado e passando a identificar outros que eu só havia ouvido falar. Quão gostoso estava sendo aquele passeio depois que resolvi apreciá-lo.
            Em algum momento percebi que não estava perdida. Apenas não estava no lugar que planejei estar e nem completamente familiarizada com ele. Não! Definitivamente eu não estava perdida! Mas também não estava totalmente situada.
            E pensei que na vida é assim também. Por vezes nos sentimos perdidos. Como se não reconhecessemos ninguém e nada. Talvez não reconheçamos nem a nós mesmos. Mas isso não significa que estejamos perdidos. Nesse momento reconhecemos a força e a coragem que existe em nós, ou passamos a conhecer a ousadia que havíamos apenas ouvido falar. É justamente descobrindo os caminhos desconhecidos da alma que reconhecemos os muitos atributos que temos. Se ao menos conseguirmos apreciar a viagem desproposital que fazemos quando pensamos estar perdidos, conheceremos esferas antes apenas distantes de nós mesmos. Se não andarmos pelos caminhos desconhecidos, jamais saberemos o que existe para ser descoberto.
            Olhei para o outro lado e os restaurantes pareciam familiares. As ruas, os sinais, as lojas. Tudo era conhecido. Havia chegado ao meu destino.
Nessa hora percebi que quando a gente pensa que se perdeu é que estamos realmente próximo de nos achar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Santo de Casa não opera milagre!

Olá Pessoal!
Estive um pouco ausente, pois estava viajando de férias, e ficava um pouco complicado parar para escrever.
Mas o assunto do post de hoje é como Eureka.... a gente vê as coisas em algum canto e o nosso cérebro fica trabalhando e trabalhando sem que a gente saiba ou queira. Um dia a gente se dá conta de uma experiência aqui, e outra aculá, e tem umas sacadas e aprendizados legais.
Portanto, queria compartilhar com vocês a minha “sacada”.
Ao viajar por aí eu sempre fico curiosa de entrar em farmácias, supermercados, lugares que o turista normalmente não dá importância. E como não poderia deixar de ser, ao passear por Paris, mais uma vez eu me deparei dentro de uma farmácia (por indicação da minha querida prima Angélica).
A Farmácia, além de ser um lugar sensacional para encontrar cosméticos maravilhosos, estava simplesmente com uma estante carregada, repito, LOTADA, de produtos de alisamento de cabelos que indicavam que o alisamento era BRASILEIRO! Hahaha! Eu tive que rir! Fiquei me perguntando se era piada eles colocarem na capa daquelas caixinhas de produtos de cabelos uma foto de uma mulher tipicamente brasileira, de biquini e com cabelos maravilhosamente lisos!
Ai me lembrei que aqui no Brasil, é muito raro dizermos que o nosso alisamento é brasileiro. Na verdade, nunca vi em canto nenhum. O tal alisamento parece que é originário da Turquia, migrou pra China, e se espalhou para o mundo pelo Japão. Hoje vemos uma diversidade que independe da nacionalidade para atrair: o Marroquinho, o Francês (dito Progressivo), o de Chocolate, de Morango, e por aí vai.
Eu não sou expert em alisamentos, e muito menos em cabelos. Uma pesquisa rápida no google nos ajuda a saber de onde os alisamentos vieram mesmo. E o assunto que eu quero abordar aqui é o aspecto psicológico da coisa: por que a gente procura outra nacionalidade para atrair o nosso consumidor? Ou melhor, por que a gente acha que produtos de outras nacionalidades são sempre melhor que os nossos? Por que a gente não dá valor às coisas da nossa terra?
Bom, agora vocês devem ter entendido o motivo do tópico desse Post. Sim, há muitos anos que a gente sabe que “Santo de casa não opera milagre”. Mas a gente não só não acredita no “Santo” como também o esculhamba.
Quero me referir aqui à um assunto que tem me incomodado bastante. Já não é de hoje que a gente escuta que faculdade particular é “pagou passou”. E assim, a gente vai dizendo que o curso é “pagou passou”. O Mestrado é “pagou passou”. O Mestrado daqui é mais ou menos, mas o da Mackenzie, é sensacional! Ouvi diversos comentários desses comparando o Mestrado e o Doutorado da Universidade de Fortaleza com o de outras instituições em outros estados e países, e tenho por obrigação que informar aos meus colegas que eles estão bastante enganados!
Quem de vocês já investigou a forma de seleção do Mestrado e do Doutorado? E quantos conhecem os currículos dos alunos que ingressam nessa Pós-Graudação? Se forem curiosos como eu, vão se surpreender com o que encontrarem! A Galera que entra tem um currículo recheado de artigos científicos e publicações em capítulos de livros como eu nunca vi igual! Publicação semelhante ou até superior aos de fora do país. Sem falar na cartela de Pós-Doutores que estão no quadro. A gente valoriza os de fora enquanto que a Sorbonne, a Harvard, a Yale e a MIT convidam os nossos professores da Unifor a serem professores convidados de suas instituições. A gente tem o melhor no “quintal” da nossa casa, mas insiste em querer sair e valorizar outros.  
Bom, colegas, só gostaria de acrescentar que vocês repensem quando forem emitir uma opinião que muitas vezes não se baseia em vocês, nem na experiência de vocês e nem no conhecimento de causa. Talvez sua opinião seja uma mera idéia fixa usada para justificar algo que você não tem coragem para revelar o real motivo. Rogers já dizia que toda percepção é uma realidade, mas é bom alerta-lhes que isso não signfica que toda percepção ou realidade seja verdade! Portanto, pese bem as palavras e as opiniões, pois a tecnologia está bem aí pra gente dismistificar as falsas nacionalidades dos alisamentos!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dores.. dores... muitas dores...


Vou compartilhar com vocês uma história que vivi recentemente e que inspirou a ideia central deste post. 

     Minha mãe levou uma queda, quebrou a clavícula, precisou ser operada e, até aí, tudo correu bem. Mas o quadro clínico que deveria se estabilizar em poucos dias não parecia estar normal, pois seu braço inchava, avermelhava-se e nada fazia o inchaço parar.
    Quando levada no médico, ele logo suspeitou e confirmou: ela havia sofrido uma trombose no braço! E foi aí que toda a minha inspiração para este post começou, mesmo que eu ainda não soubesse.
     A recomendação do médico foi a de descanso, de ficar a mais imóvel possível, e muita, muita ingeção e remédio para desfazer o trombo. O acompanhamento do médico era rigoroso: exames de sangue em dias intercalados, monitoramento dos comportamentos e dos resultados. Tudo isso para controlar a seriedade do que poderia se suceder.
    A minha mãe, como uma boa hiperativa, não conseguia ficar paradinha e seguindo as recomendações médicas. Eu e minha família nos revezávamos quase como vigias para não permitir que ela fizesse qualquer movimento. Mas não tinha jeito: se a gente saísse nem que fosse para ir no banheiro, ela aprontava alguma. Quando nos dávamos conta, ela já estava apanhando algo no chão, ou até mesmo lavando a louça! Dá para imaginar uma pessoa que acabou de sofrer uma trombose na pia lavando louça?
     Depois de a gente pedir, insistir, brigar, dedurar ela pro médico, chegamos até a ameaça-la numa tentativa desesperadora para que ela seguisse a orientação do médico. Depois de tantas tentativas frustradas, eu resolvi conversar sério com ela.
     Não, minha mãe não é aquelas mulheres de filme que tem grandes experiências transformadas em sábios conselhos. Ela é uma mulher extremamente espontânea e de tão ingénua me disse que apesar de tudo que os médicos diagnosticaram, ela não sentia uma dor na unha! Para ela, já que não havia dor, não havia mal ou doença! E quanto mais seu braço desinchava, mais ela afirmava categoricamente que o trombo havia se desfeito! Eu já estava perdendo as estribeiras, mas, para não entrarmos em  mais discórdias, resolvi usar uma estratégia pedagógica: coloquei ela de frente para o Dr. Google Acadêmico para que descobrisse por si o que estava acontecendo com ela, mesmo que ela não estivesse sentindo dor. Depois da tal “consulta”, ela pareceu mais consciente de tudo, mas continuou, e continua dizendo a mesma coisa: não está sentindo uma dor sequer.
     Agora, depois de 3 semanas do ocorrido e com a situação estabilizada (ainda não está curada!), me pego pensando sobre a frase dela: Se eu não sinto dor, como pode algo estar errado comigo?
     Daí cheguei a algumas conclusões a respeito das nossas dores, físicas ou psicológicas:

Primeiro, não é porque a gente não sente dor que significa que a gente está bem e saudável. Quem disse que a gente vai sentir as nossas dores nos deteriorando por dentro ou interrompendo o nosso funcionamento normal?

Em seguida, conclui que embora a dor não seja “sentida”, ela é “manifesta”, ou seja, o inchaço indicava que algo não estava bem. As dores vêm em forma de sintomas de forma tal, que nós não as reconhecemos como elas são e não com a seriedade do que elas ocasionam.
A terceira lição que tirei de tudo isso é que a gente não sabe responder nada sobre as nossas dores, as conhecidas e as desconhecidas, as sentidas e as não-sentidas, as manifestas e as não-manifestas. Quem entende de olho é oftalmologista, de garganta é otorrino, e assim por diante. Por que a gente insiste em achar que a gente é quem sabe o que está se passando? Já ouviu falar de pessoas que achavam que estavam gripadas e na verdade se tratava de uma pneumonia? Pensam que estão com dor nas pernas quando tem um desgaste do osso. E tantas outras queixas mal elaboradas e muito mal diagnosticadas por nós mesmo. Tudo isso porque a gente tem a mania de achar que podemos nos diagnosticar! Somos meio metidos a médicos, psicólogos, juízes, padres, pastores, e achamos que conhecemos o melhor para a gente. Resultado: a dor só aumenta, o sintoma se agrava e a verdadeira doença não é tratada.
Em quarto lugar, a gente não só acha que entende das nossas dores como nos sentimos no direito de diagnosticar e recomendar tratamento para os outros. Eu mesma, quando mais nova, sentia muitas cólicas e dores na barriga e minha família me mandava tomar um leitinho quente para passar. Diziam que aquela dor era psicológica. E haja leite quente por dois anos. Resultado? Eu tinha intolerância a lactose e estava só piorando com essa “medicação”. Ou  seja, quando a gente precisa, a gente confia mais na sugestão do vizinho e da apresentadora de televisão do que na de um profissional.

     Aprendi muito com essa fase da minha mãe, e só para deixar a ideia deste post ainda mais clara: quem cuida de dor de dente é dentista, quem cuida de dor nas costas é ortopedista, quem cuida de dor de cabeça é oftalmologista ou neurologista. E quem cuida de dor no CORAÇÃO, na VIDA e nas RELAÇÕES é PSICÓLOGO!
     
     Pare de achar que você se basta e que os outros não podem lhe ajudar! Com certeza você também tem dores silenciosas, assintomáticas e sem resposta. Se você conhece sua dor tão bem assim, porque você ainda não conseguiu se livrar dela? Cuidado com as tromboses psicológicas que impedem o seu desenvolvimento e a sua sobrevivência! Já dizia o ditado: é melhor prevenir do que remediar! Se minha mãe não tivesse ido ao médico logo, não tinha compressa de gelo que desse jeito naquele inchaço! 

     As sequelas do não remediar são bem mais difíceis de serem tratadas, algumas vezes até irreversíveis! 

Você não vai querer que isso aconteça com você, não é?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

VAMOS SER IRRESPONSÁVEIS???

Você deve estar achando esquisito ler um post com esse convite, mas calma, vou lhe explicar direitinho o meu ponto de vista.
A verdade é que todo mundo, até mesmo a pessoa mais responsável e prestativa do mundo experimenta horas que gostaria de ser um pouco irresponsável e jogar tudo pro alto. Vai dizer que você nunca sentiu isso? E de fato, muitas pessoas fazem exatamente isso!
Mas o meu convite é para que possamos ser um pouquinho irresponsáveis em situações que a responsabilidade é sinônimo de neuroticismo, e não de compromisso. Isso mesmo! A gente se cobra tanto, com tanta coisa, que acabamos achando que TUDO é responsabilidade, e no fim das contas, dizemos ter responsabilidades demais!
Só que eu particularmente acho que temos transformado determinadas situações em responsabilidades, quando elas na verdade não passam de atividades que nós gostaríamos de fazê-las, mas que ao a adiarmos para amanhã, não haverá tantos prejuízos.
Meu convite é pra sermos um pouquito irresponsáveis nessas horas. Quem disse que a gente não pode faltar uma aula aqui e acolá e ir fazer as unhas ao invés? E quem te proibe de comer um chocolatinho no meio da dieta de vez em quando? E por que não sair pra farrear no meio da semana com os amigos esporadicamente? Faltar uma prova, qual o problema que há nisso?
Olhe bem! O convite à essas irresponsabilidades é esporádica, e não diária! Não junte todas essas sugestões na mesma semana! E preste bastante atenção às consequências dessas pequeninitas “irresponsabilidades”. Examine-as a fundo. Se você for o único afetado, siga em frente consciente de que vai ter que malhar um pouco mais amanhã, ou de que estará com bastante sono depois daquela farra. Contudo, evite-as com todo gosto, caso outras pessoas sejam diretamente afetados pela sua decisão. O seu colega de classe não vai gostar nada quando notar que você faltou a prova que deveria ser feita em dupla. O nome disso é egoísmo! Pensar no outro é uma questão de respeito!
Eu adoro ser um pouquinho irresponsável de vez em quando, me dá a sensação de liberdade, de satisfação, de desejo concedido, mas sempre com os pés no chão, avaliando as possibilidades, as consequências, os resultados. Deve ser muito chato não se permitir fazer isso!

E você, consegue ser um pouquinho irresponsável?