segunda-feira, 18 de julho de 2011

Perdida?

Amigos, essa pequena experiência foi escrita cerca de 4 anos atrás quando eu passei uma temporada em Paris. Espero que gostem!

            Mudar-se para uma nova cidade é um grande desafio. Principalmente quando não se fala a língua do país e nem se conhece bem o local.
            No meu caso, morar em Paris foi uma descoberta a cada dia. Ver anúncios no começo da semana e não conseguir entendê-los, mas no fim da semana eles ganham total sentido graças às aulas de francês.
            Os lugares que conheci, praças, jardins, museus, passaram a ganhar vida e importância a partir do momento em que os visitava. É certamente uma cidade que sangra cultura por todos os poros.
            Mapas, mapas e mais mapas. Para achar todos esses lugares os mapas são indispensáveis, mapas do metrô, das linhas de ônibus, de ruas, e lá estava o tal monumento. Opa! Mais um mapa: o mapa do local, de como ele está dividido. Eles prometem nos ajudar a se situar, mas até mesmo o melhor dos mapas não consegue ser fiel na representação daquilo a que se propõe. A cidade, as avenidas e as ruas mudam com uma rapidez maior do que a sua representação consegue exibir. E com tantos lugares desconhecidos e mapas a decifrar, o mais provável de acontecer é a gente se perder. Foi aí que começou a minha jornada.
            Sai de casa 15 minutos antes de a aula iniciar, como de costume, direcionei-me para a parada do ônibus. Lá, o visor (painel eletrônico) indicava que havia uma manifestação (Paris e suas manifestações de ônibus!) e que a linha 91 não funcionava normalmente. Verifiquei o visor (painel) da outra parada, que seguiria no sentido oposto, mas que faria o mesmo percurso. Lá, indicava-se que o ônibus estava sendo conduzido normalmente.             Resolvi, então, pegar essa linha, que embora demorasse um pouco mais para chegar ao meu destino, levar-me-ia mais rápido do que se eu pegasse o metrô.
            O tempo de atraso imaginado se transformou em 50 minutos de passeio de ônibus pela cidade de Paris. Isso mesmo! O ônibus começou a rodar pela cidade e a parar em diversos locais que não eram os indicados na rota. Os avisos auditivos e visuais do ônibus estavam desligados e a parada seguinte era sempre uma surpresa.
            Depois de entrar em pânico e pensar que estava perdida, cheguei à conclusão de que eu deveria simplesmente olhar a cidade e não mais me importar com o destino. Afinal de contas, eu estava ali, segura, passeando dentro de um ônibus quentinho e aconchegante e poderia descer a qualquer minuto e pegar um táxi. Você, como eu, deve estar pensando nesse exato momento o porquê de eu não ter feito exatamente isso logo no começo do tal “passeio”.  Mas lá estava eu. Rodando a cidade. Passando por pontes sobre o rio Sena e contornando diversas praças. Reconhecendo monumentos que eu já havia visitado e passando a identificar outros que eu só havia ouvido falar. Quão gostoso estava sendo aquele passeio depois que resolvi apreciá-lo.
            Em algum momento percebi que não estava perdida. Apenas não estava no lugar que planejei estar e nem completamente familiarizada com ele. Não! Definitivamente eu não estava perdida! Mas também não estava totalmente situada.
            E pensei que na vida é assim também. Por vezes nos sentimos perdidos. Como se não reconhecessemos ninguém e nada. Talvez não reconheçamos nem a nós mesmos. Mas isso não significa que estejamos perdidos. Nesse momento reconhecemos a força e a coragem que existe em nós, ou passamos a conhecer a ousadia que havíamos apenas ouvido falar. É justamente descobrindo os caminhos desconhecidos da alma que reconhecemos os muitos atributos que temos. Se ao menos conseguirmos apreciar a viagem desproposital que fazemos quando pensamos estar perdidos, conheceremos esferas antes apenas distantes de nós mesmos. Se não andarmos pelos caminhos desconhecidos, jamais saberemos o que existe para ser descoberto.
            Olhei para o outro lado e os restaurantes pareciam familiares. As ruas, os sinais, as lojas. Tudo era conhecido. Havia chegado ao meu destino.
Nessa hora percebi que quando a gente pensa que se perdeu é que estamos realmente próximo de nos achar.

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