terça-feira, 9 de agosto de 2011

Acreditar?


É possível que ao ler o tópico deste post você tenha sido automaticamente levado a pensar que o papo hoje era sobre religião, Deus, ou coisas relacionadas. Mas não se trata disso. Na verdade eu gostaria mesmo era de distrinchar um pouco do que se trata essa história de acreditar.
Acreditar é a capacidade de olhar para algo com afeição e achar que aquilo é certo e adequado. É quando você acha que aquilo pode ser bom, viável, correto. Há uma certa inclinação positiva subjetiva em que você tem uma inferência de certeza sobre algo. E nenhum de nós escapa da capacidade de acreditar em alguma coisa. A gente acredita que um determinado trabalho vai ser muito bom, ou não. A gente acha que seria um bom profissional numa área. Ou que seria feliz se morasse em um determinado local. Quando a gente acredita em algo, deposita uma boa expectativa naquilo. Uma coisa é certa: não tem como não acreditar. Mesmo que voce seja ateu, você tambem acredita. Voce acredita que Deus não existe, e assim sendo, irá colocar seus esforços em si, no acaso, na biologia, ou em qualquer outra instância.
Todo mundo conhece alguém que diz que acredita em uma coisa, mas nitidamente realizam outras, e a gente fica tentando entender em que ela realmente acredita a partir das suas ações. É frequente confundir que acreditar em algo é fazê-lo, realizá-lo. E que se algo não foi atingido é porque não acreditávamos suficientemente. Acho perigoso demais criar relações de causa e efeito para variáveis que não estão diretamente ligadas, e muito menos mensurá-las e intensificá-las. Pensar que acreditar em algo é realizá-lo é fruto do pensamento positivista, e é bom distinguir que acreditar é muito diferente de fazer. O primeiro está situado na instância do pensar, elaborar, avaliar, fantasiar, enfim, todos concentradas numa atividade que pode requerer apenas intenção. Fazer é passar para o plano da ação, que requer outras capacidades muito distintas do acreditar. Fazer requer pensar estrategicamente, manejo para lidar na prática, conviver com o imprevisível, e ainda as instâncias da determinação, perseverança, e tantas outras coisas. Então não necessariamente a gente realiza o que acredita, e nem acredita no que realiza, pois também fazemos muitas coisas num modo meio automático. As ações podem ser muito diferente das intenções e do que as pessoas acreditam, e ao invés de dizermos que a pessoa fala uma coisa e faz outra, podemos simplesmente dizer que a pessoa tem sérias dificuldades ou de fazer o que acredita ou de acreditar no que faz. Eu penso que acreditar é uma escolha de investimento de si em algo, o que deveria implicar em exclusividade e em conformidade com outras questões em que você acredita. Quando a gente acredita em algo, criamos a nossa percepção investida em algo, elaborando uma realidade interior, o que deveria limitá-la.
Outra coisa que seria interessante dismistificar é que acreditar não significa comprovar. Você pode até justificar que acredita que o homem veio do macaco em virtude das comprovações científicas, mas, a não ser que tenha sido você o pesquisador que descobriu isso, sinto informar-lhe que os estudos além de serem inúmeros e você provavelmente não ter investigado todos, vale lembrar do mais importante: você não foi o autor da pesquisa, ou seja, você ainda continua na instância de acreditar na comprovação científica de um outro alguém.
O fato é que a gente acredita sempre em alguma coisa, em alguma instância, que vai se infiltrando em tudo na nossa vida: trabalho, amigos, família, relacionamentos. Toda crença tem o seu caráter individual, mas também tem uma influência do social ao mesmo tempo que o retroalimenta, o que quer dizer que a gente não acredita em algo por acaso.
O mundo de hoje vive uma pluralidade das possibilidades do acreditar! Tudo é possível e deve ser respeitado sob a pena de ser processado! Os princípios da sociedade mudam, a lei aprovada ontem pode já ter sido revogada hoje, as avenidas mudam de sentido da noite pro dia. O mundo de hoje é um mundo onde tudo depende do seu ponto de vista, não havendo apenas dois lados da moeda, mas multifacetas mutáveis da opinião. Isso acaba com a idéia de parâmetros, valores, princípios, suportes, ou todo tipo de conceito que tente perdurar. Criamos paradoxos pras nossas vidas em virtude de tantas possibilidades do acreditar. Tem horas que nos perguntamos se estamos mesmo fazendo a coisa do jeito que acreditamos, se era assim mesmo, ficamos nos sentindo um pouco inseguros, indecisos, ou até boiando.
Nessas horas, é bom investigar em que estamos acreditando, em que estamos depositando expectativas, e no que isso tem repercutido nas nossas vidas.
Por fim, acho que devemos tomar cuidado para que essa instancia do que acreditamos possa dar conta de tudo, pois o que não dá conta de tudo promove incoerências e paradoxos, uma verdadeira salada mista pessoal!