terça-feira, 14 de junho de 2011

Dores.. dores... muitas dores...


Vou compartilhar com vocês uma história que vivi recentemente e que inspirou a ideia central deste post. 

     Minha mãe levou uma queda, quebrou a clavícula, precisou ser operada e, até aí, tudo correu bem. Mas o quadro clínico que deveria se estabilizar em poucos dias não parecia estar normal, pois seu braço inchava, avermelhava-se e nada fazia o inchaço parar.
    Quando levada no médico, ele logo suspeitou e confirmou: ela havia sofrido uma trombose no braço! E foi aí que toda a minha inspiração para este post começou, mesmo que eu ainda não soubesse.
     A recomendação do médico foi a de descanso, de ficar a mais imóvel possível, e muita, muita ingeção e remédio para desfazer o trombo. O acompanhamento do médico era rigoroso: exames de sangue em dias intercalados, monitoramento dos comportamentos e dos resultados. Tudo isso para controlar a seriedade do que poderia se suceder.
    A minha mãe, como uma boa hiperativa, não conseguia ficar paradinha e seguindo as recomendações médicas. Eu e minha família nos revezávamos quase como vigias para não permitir que ela fizesse qualquer movimento. Mas não tinha jeito: se a gente saísse nem que fosse para ir no banheiro, ela aprontava alguma. Quando nos dávamos conta, ela já estava apanhando algo no chão, ou até mesmo lavando a louça! Dá para imaginar uma pessoa que acabou de sofrer uma trombose na pia lavando louça?
     Depois de a gente pedir, insistir, brigar, dedurar ela pro médico, chegamos até a ameaça-la numa tentativa desesperadora para que ela seguisse a orientação do médico. Depois de tantas tentativas frustradas, eu resolvi conversar sério com ela.
     Não, minha mãe não é aquelas mulheres de filme que tem grandes experiências transformadas em sábios conselhos. Ela é uma mulher extremamente espontânea e de tão ingénua me disse que apesar de tudo que os médicos diagnosticaram, ela não sentia uma dor na unha! Para ela, já que não havia dor, não havia mal ou doença! E quanto mais seu braço desinchava, mais ela afirmava categoricamente que o trombo havia se desfeito! Eu já estava perdendo as estribeiras, mas, para não entrarmos em  mais discórdias, resolvi usar uma estratégia pedagógica: coloquei ela de frente para o Dr. Google Acadêmico para que descobrisse por si o que estava acontecendo com ela, mesmo que ela não estivesse sentindo dor. Depois da tal “consulta”, ela pareceu mais consciente de tudo, mas continuou, e continua dizendo a mesma coisa: não está sentindo uma dor sequer.
     Agora, depois de 3 semanas do ocorrido e com a situação estabilizada (ainda não está curada!), me pego pensando sobre a frase dela: Se eu não sinto dor, como pode algo estar errado comigo?
     Daí cheguei a algumas conclusões a respeito das nossas dores, físicas ou psicológicas:

Primeiro, não é porque a gente não sente dor que significa que a gente está bem e saudável. Quem disse que a gente vai sentir as nossas dores nos deteriorando por dentro ou interrompendo o nosso funcionamento normal?

Em seguida, conclui que embora a dor não seja “sentida”, ela é “manifesta”, ou seja, o inchaço indicava que algo não estava bem. As dores vêm em forma de sintomas de forma tal, que nós não as reconhecemos como elas são e não com a seriedade do que elas ocasionam.
A terceira lição que tirei de tudo isso é que a gente não sabe responder nada sobre as nossas dores, as conhecidas e as desconhecidas, as sentidas e as não-sentidas, as manifestas e as não-manifestas. Quem entende de olho é oftalmologista, de garganta é otorrino, e assim por diante. Por que a gente insiste em achar que a gente é quem sabe o que está se passando? Já ouviu falar de pessoas que achavam que estavam gripadas e na verdade se tratava de uma pneumonia? Pensam que estão com dor nas pernas quando tem um desgaste do osso. E tantas outras queixas mal elaboradas e muito mal diagnosticadas por nós mesmo. Tudo isso porque a gente tem a mania de achar que podemos nos diagnosticar! Somos meio metidos a médicos, psicólogos, juízes, padres, pastores, e achamos que conhecemos o melhor para a gente. Resultado: a dor só aumenta, o sintoma se agrava e a verdadeira doença não é tratada.
Em quarto lugar, a gente não só acha que entende das nossas dores como nos sentimos no direito de diagnosticar e recomendar tratamento para os outros. Eu mesma, quando mais nova, sentia muitas cólicas e dores na barriga e minha família me mandava tomar um leitinho quente para passar. Diziam que aquela dor era psicológica. E haja leite quente por dois anos. Resultado? Eu tinha intolerância a lactose e estava só piorando com essa “medicação”. Ou  seja, quando a gente precisa, a gente confia mais na sugestão do vizinho e da apresentadora de televisão do que na de um profissional.

     Aprendi muito com essa fase da minha mãe, e só para deixar a ideia deste post ainda mais clara: quem cuida de dor de dente é dentista, quem cuida de dor nas costas é ortopedista, quem cuida de dor de cabeça é oftalmologista ou neurologista. E quem cuida de dor no CORAÇÃO, na VIDA e nas RELAÇÕES é PSICÓLOGO!
     
     Pare de achar que você se basta e que os outros não podem lhe ajudar! Com certeza você também tem dores silenciosas, assintomáticas e sem resposta. Se você conhece sua dor tão bem assim, porque você ainda não conseguiu se livrar dela? Cuidado com as tromboses psicológicas que impedem o seu desenvolvimento e a sua sobrevivência! Já dizia o ditado: é melhor prevenir do que remediar! Se minha mãe não tivesse ido ao médico logo, não tinha compressa de gelo que desse jeito naquele inchaço! 

     As sequelas do não remediar são bem mais difíceis de serem tratadas, algumas vezes até irreversíveis! 

Você não vai querer que isso aconteça com você, não é?

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